sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Crónicas de Varonini
(Álvaro Magro)

(clique nas imagens para as ampliar)


Dos muitos jogos efectuados pelo Guanabara F.C., recordo com especial emoção estes dois, (pela positiva e negativa) que passo a relatar:

1 - Guanabara F.C. vs F.C. da Lapa

No campo pelado do F.C.Porto na rua da Constituição, num célebre encontro entre o F.C.da Lapa e o grandioso Guanabara F.C., talvez pelo facto do Lapa equipar com as cores do F.C.Porto da época, e o Guanabara equipar de negro, semelhante à Académica de Coimbra, nunca tinha visto tanta assistência num jogo de futebol em que participei.


O nosso time alinhou muito compostinho, com um lote dos melhores jogadores que por lá passaram, (Amaro, Alexandre,Vasco, etc.) e foi um bom jogo, muito bem disputado, que julgo ter acabado empatado 2 a 2 ou 3 a 3.
Houve vários comentários entre a assistência:

- Que bom jogo de futebol!;
- Por vezes é preferivel vêr estes jogos entre amadores do que entre profissionais!




2 - Guanabara F.C. vs C.F. "Os Merengues"

No velhinho pelado do campo do Bessa (Boavista F.C.) efectuamos um jogo contra os Merengues e estavam a assistir ao encontro os craques do Boavistão, na época a disputar a 2ª. divisão nacional.


Recordo que iniciamos o jogo muito bem, pois marquei o 1º golo do encontro com uma "chapelada" ao guarda redes, mas no decorrer do jogo foi um descalabro; "mamamos" 5 golos!

Uma vergonha perante os craques do Boavistão (Germano, Mário João, Artur, Celso, Taí, Zeca Pereira, Lemos, etc, etc.) foi vexante...



Saudações desportivas

Viva o Guanabara!

Álvaro Magro - Dezembro/2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Episódios vários

Notícias na Imprensa

O Jornal de Notícias - JN era o patrocionador do Campeonato Distrital de Amadores da A.F. Porto e também o único que noticiava os respectivos jogos.
As notícias limitavam-se a informar da constituição das equipes, o resultado final e a classificação das váries séries.

Era habitual o "repórter" de serviço telefonar para o Café Guanabara, após cada jogo, para obter informações acerca do mesmo.
Quem normalmente atendia era o Sr. Soares, dono do Café, que passava a chamada ao primeiro atleta, sócio, ou adepto que encontrasse.

As informações pretendidas eram sempre sobre o resultado do jogo e a constituição da equipa do G.F.C.

Se em relação ao resultado a tarefa era fácil e não se podia inventar pois o "repórter" já teria telefonado para a sede (ou café) do Clube adversário, ou fá-lo-ia de seguida, já no que respeitava à constituição da equipa a tarefa era bem mais complicada devido, sobretudo, à constante "rotação" de jogadores.

Assim, algumas vezes apareceram no jornal nomes de atletas que não tinham jogado nesse Sábado, o que não era para admirar já que houve jogos em que jogaram atletas não inscritos na A.F.P. e que usaram o cartão de outro atleta com algumas parecenças físicas, o que não era difícil atendendo à quantidade de atletas inscritos.

A informação sobre a constituição das equipes também dependia muito de quem atendia a chamada e alguns "bacanos" tinham o hábito de fornecer as alcunhas com que os atletas eram tratados entre eles.

Assim, era habitual aparecer no JN de Domingo a constituição da equipa do G.F.C. integrando nomes como: Tibério, Baronine, Schmeichel, Alex, Degois e JJ.
Ou seja: Tibério, Álvaro, Miguel, Alexandre, Amaro e Botelho.

Estes factos não deixavam de causar algum temor no adversário da jornada seguinte por lhe fazer crer que o plantel do G.F.C. era constituído por muitos "estranjeiros".
Aguardam-se mais contributos de ex-Atletas/Sócios/Adeptos, cujos relatos podem ser enviados para o e-mail: guanabara1966@gmail.com, ou utilizando a página criada para esse efeito e que pode ser acedida clicando no link "Contactos" da coluna à direita.
Bocas foleiras

O Plantel

Como já foi referido, o plantel do G.F.C. era composto por jovens residentes na zona da Carvalhosa, ou arredores, que frequentavam, uns o Café Guanabara e outros o Café Diu (ambos ainda existentes naquela zona), mas atendendo à constante falta de comparência de alguns atletas, o Clube deparava-se muitas vezes com dificuldades em formar um "onze" completo.
Daí, possuir um "departamento" de contratações altamente sofisticado e sempre aberto a qualquer sugestão, fazendo lembrar os antigos carros eléctricos onde "cabia sempre mais um".

Com efeito, qualquer "atleta" que se oferecesse para representar as cores do G.F.C., era recebido de braços abertos e inscrito na A.F.P., ainda que nunca na vida tivesse dado um pontapé na bola, bastando-lhe apenas apresentar como credenciais o facto de já ter assistido a alguns jogos de futebol.
A alguns deles se lhe se perguntasse se rematavam bem com os dois pés, eram bem capazes de responder: "não, só com um de cada vez".
Era-lhes fornecido o calendário de jogos e diziam-lhes: "vá telefonando aos Sábados para o Café para saber se, nesse dia, tem "vaga" na equipe.

Felizmente o G.F.C. tinha também os seus "olheiros" e algumas "contratações" acabaram por trazer alguma mais valia ao Clube porque: "afinal o gajo é jeitoso".

E, assim, o G.F.C. foi prosseguindo a sua curta carreira com um grupo de "bacanos" que apenas queriam era "dar uns chutos na bola", mas algumas vezes chegou a apresentar "onzes" bem constituídos efectuando grandes exibições, como foi o caso de um jogo no campo do F.C.P. na Rua da Constituição, defrontando "Os Merengues" (equipa bem cotada na época) em jogo que, salvo erro, sofreu várias alterações no marcador tendo terminado com um empate a três golos.

Também quando o adversário era o grande rival da Torrinha - Ultramarino F.C. - o onze apresentado pelo G.F.C. era quase sempre constituído pelos melhores jogadores, resultando em autênticos derbys locais bem "rasgadinhos".

O equipamento


Naquele tempo não existia a quantidade de marcas de equipamentos desportivos que existe hoje. Existia uma ou duas talvez, mas estes clubes amadores não possuíam receitas suficientes para os adquirir e a marca mais usada era a famosa "OMB" - O Mais Baratinho.

O equipamento era de acordo com as cores do emblema, sendo todo preto com excepção da camisola cujo colarinho e uma barra nas mangas eram amarelas, conforme se apresenta na foto ao lado.


As chuteiras não tinham pitões, mas sim umas travessas de madeira pregadas à sola, cujos pregos, por vezes, furavam aquela e atingiam o pé do jogador causando-lhe grande desconforto e dor.
Não era raro ver os jogadores a coxear por esse facto e houve ocasiões em que a quantidade deles era tal que mais parecia estarmos a assistir a um jogo do "Campeonato Distrital de Coxos".

Sendo o G.F.C. um clube de fracos recursos que vivia apenas da cotização dos respectivos associados, que eram em número muito reduzido, a sua gestão tinha de ser feita com muita "engenharia financeira" e a aquisição de equipamentos tinha de ser reduzida ao mínimo indispensável.

Como a "rotatividade" e a "contratação" de jogadores eram constantes, por vezes era complicado encontrar no stock do clube chuteiras adequadas ao tamanho dos pés de todos os jogadores presentes a jogo.

Assim, era frequente a barafunda no balneário com a corrida dos jogadores ao saco das chuteiras na tentativa de encontrarem o par ideal para os seus pés.

Todas estas dificuldades afectavam profundamente o estado de concentração dos atletas, comprometendo significamente o seu desempenho no terreno do jogo.

Só o espírito de sacrifício, o pondenor, o amor à camisola e a "grande" competência de tão "garbosos" atletas, fizeram com que a carreira do G.F.C. tivesse tal "êxito" que era reconhecido em muito lado, nomeadamente ali pelas ruas mais próximas.




A bola era em "gomos" de couro com câmara de ar e, quando nova, tinha um aspecto parecido com a bola da foto à esquerda, mas de tantos maus tratos que sofria, em pouco tempo ficava em estado deplorável. O G.F.C. só possuía uma que furava muitas vezes e passava a vida no sapateiro.



As Faltas de Comparência

A falta de comparência de uma equipa a um jogo de futebol do Campeonato Distrital de Amadores da Associação de Futebol do Porto, acarretava graves consequências para o Clube faltoso, não só económicas, mas também, segundo julgo, de ordem disciplinar.

Como já foi referido, o G.F.C. deparava-se frequentemente com dificuldades para apresentar um "onze" completo. No entanto, havia um número mínimo de jogadores (salvo erro, oito) com que uma equipa se poderia apresentar para disputar um jogo. Por outro lado, se no decorrer do jogo esse número fosse reduzido a seis (salvo erro), quer por lesões, quer por expulsões, o jogo era imediatamente dado como terminado.

Num determinado jogo o G.F.C. apresentou-se com apenas nove jogadores, alguns dos quais da "equipa D".
Não me recordo já qual era o adversário, mas antevia-se, obviamente, que o Guanabara iria levar uma "ganda abada" de golos.
A estratégia foi então a de entrar em jogo e aguentar até "eles" começarem a entrar. Depois teriam de sair pelo menos três jogadores lesionados.
E assim foi: começaram a entrar golos de todas as maneiras e feitios e, cá fora, os dirigentes e adeptos do Guanabara presentes davam constantes sinais para que os jogadores simulassem rapidamente lesões e saíssem de campo até restarem apenas seis e o jogo fosse dado como terminado, evitando-se, assim, um resultado escandaloso que mancharia para sempre o bom nome do G.F.C..

Se no Futebol profissional existiam (e ainda existem) autênticos actores na arte de simular penalties, faltas, lesões, etc., já no Futebol amador os actores exageravam na arte da simulação e, naquele jogo, alguns jogadores do G.F.C. efectaram tamanhas simulações que aquelas cenas bem se poderiam incluir numa qualquer série de "apanhados" televisivos.

Com efeito, os jogadores começaram a cair que nem tordos e com tamanhos esgares que muitos adeptos da equipe adversária chegaram até a sugerir que se chamasse o 115 (naquele tempo o 115 era o que é hoje o 112).
A lesão mais caricata foi a do Armando Marcelo (julgo eu) que, sem ninguém lhe tocar, se atirou para o chão agarrando-se a uma das pernas e fazendo tal alarido que fazia supor ter sofrido uma fractura exposta. Foi retirado do campo ao "pé coxinho" e amparado por dois colegas.
Era inverno e ameaçava chuva. Mal o Marcelo saiu de campo, caiu semelhante bátega de água que obrigou os espectadores a procurarem o abrigo mais próximo, deixando abandonado à sua sorte o Marcelo.
Foi então que se deu um autêntico milagre e o Marcelo, fugindo da chuva, desata a correr ligeirinho em direcção ao balneário.

Não existindo, então, numa das equipas (G.F.C.) o número mínimo de jogadores necessártio para prosseguir o jogo, o mesmo foi dado por terminado pelo árbitro, com o resultado final de 6 ou 7 a zero.
Curiosidades

Para os mais novos aqui ficam algumas curiosidades dos tempos das bolas de trapos no adro da Igreja de Cedofeita.
(anos 60 - séc XX)

O escudo (moeda)

Como foi referido na página "Os primórdios", o Fausto teve de pagar "uma multa de 80$50 (oitenta "paus" e 5 "tostões") que teve de depositar mum tasquinho que havia ali perto".

"Tostão foi uma moeda de ouro cunhada pela primeira vez no reinado de D. Manuel I equivalente a 1.200 réis, mas também cunhou tostões de prata. Era também o nome dado a uma subdivisão do escudo português, equivalente a 10 centavos" (Wikipédia).

Com a implantação da República (1910), acabaram os "reis" (moeda) e foi criado o "escudo", cujo símbolo era o cifrão($) e que correspondia a mil reis. Como na Monarquia um conto-de-reis correspondia a um milhão de reis, equivalente depois, na República, a 1.000$00 (mil escudos), essa designação manteve-se pelo tempo fora e ainda hoje, os mais velhos, dizem cinco contos quando se querem referir a 5.000$00 (cinco mil escudos).

Portanto, a forma correcta de se designar o valor da multa paga pelo Fausto seria: "oitenta escudos e cinquenta centavos". No entanto, os mais velhos ainda mantinham os hábitos do tempo da Monarquia e era muito frequente ouvir-se: "oitenta mil e quinhentos", ou simplesmente "oitenta e quinhentos". Ou seja: "oitenta mil e quinhentos reis". Havia mesmo quem escrevesse "80$500".

Até ao fim do escudo (2002), eram usuais estas designações:

- 7$50 = sete e quinhentos (sete escudos e cinquenta centavos);
- 10$00 = dez mil reis (dez escudos);
- 1$00 = dez tostões (um escudo);
- $50 = cinco tostões, ou uma coroa (50 centavos).

Curiosamente, quando se falava de 2$50 (dois escudos e cinquenta centavos) usavamos frequentemente a expressão "25 tostões" ou cinco coroas.


Em documentos escritos eram sempre usadas as expressões correctas, pelo que as expressões antigas eram transmitidas pelos mais velhos às gerações mais novas de modo verbal, originando adulterações que se tornaram em expressões de uso corrente até à chegada do euro, tais como:

- Eh pá, empresta aí cem merréis (100 mil reis - 100 escudos - 100$00);
- Eh pá, hoje gastei mais de 5 contos (5 contos de reis - 5 mil escudos);

Voltando à multa que o Fausto teve de pagar por andar a jogar a bola no adro da igreja: "uma multa de 80$50 (oitenta "paus" e 5 "tostões") que teve de depositar mum tasquinho que havia ali perto", usei "paus" em lugar de "merréis" porque, nessa altura, entre a juventude, foi criada essa "moda" cuja origem desconheço, tal como a "coroa" no caso dos 5 tostões.

Em relação ao depósito dos 80$50 numa tasquinha da zona, a ideia que tenho é a de que, nessa época, os agentes da polícia ("bófias") estavam impedidos de receber qualquer importância de multas. Não encontrei qualquer informação sobre este assunto, pelo que deixo para discussão a seguinte questão: Não seria uma jogada da "bófia" para ficar com conta aberta na tasca onde, de quando em vez, iriam beber uns "neguitos", abantendo ao saldo?

A Igreja Paroquial de Cedofeita

Nos inícios do século XX ficou decidido construir uma nova igreja paroquial de Cedofeita. O arquitecto José Marques da Silva foi convidado para elaborar o seu projecto de construção. Embora tenham sido feitas longas tentativas para o realizar, nunca foi concretizado.


Lembro-me dos anos em que por ali andei que a fachada era feiosa e que para aceder à porta principal da igreja era necessário ladear uma espécie de "piscina seca" recoberta de erva.

Foram erguidas umas paredes depois da concretização da sacristia - que ainda existe - que davam corpo à futura igreja. Do desmontado convento que deu lugar à actual estação de S. Bento foram transladadas algumas pedras, algumas das quais ainda lá jazem abandonadas junto à entrada das capelas mortuárias.


(Clique no desenho para o ampliar)



Como as obras se arriscavam de ser mais complicadas do que as de Santa Engrácia em Lisboa (penso eu) ficou decidido construir uma nova igreja.

O templo actual começou a ser projectado pelo arquitecto Eugénio Alves de Sousa em 1963 e a obra ficou concluída em 1994.

(Clique na foto para a ampliar)

fonte: ruasdoporto.blogspot.pt


A Igreja românica de Cedofeita

A Igreja de São Martinho de Cedofeita (também conhecida como Igreja Românica de Cedofeita) é considerada a igreja mais antiga da cidade do Porto, em Portugal.

Não se sabe quando terá sido construída a igreja original, sendo no entanto pacífica a ideia de que será um resquício da povoação sueva, que se localizava em Cedofeita. Uma das teorias maioritárias entre os historiadores [carece de fontes] é a de que terá sido erguida pelo rei suevo Reciário em 446. Outros defendem que foi o rei Teodomiro, também suevo, quem a mandou construir, em 559, tendo sido baptizado nela conjuntamente com o seu filho Ariamiro.

A acreditar nesta última versão da história, o nome de Cedofeita será uma referência à igreja. Conta a lenda que Teodomiro, desesperado porque não encontrava cura para a doença do Ariamiro, recorreu a São Martinho de Tours, enviando a esta cidade embaixadores com ofertas de prata e ouro em peso igual ao do seu filho. Acabou por ser o bispo de Braga São Martinho de Dume o portador de uma relíquia de São Martinho de Tours, perante a exposição da qual o filho do rei foi curado, e todo o povo suevo presente convertido ao catolicismo. Esta relíquia está guardada nesta igreja de Cedofeita, juntamente com outras do evangelizador dos suevos, o bispo de Braga e de Dume. Teodomiro ordenou o início da construção de uma nova igreja em honra do referido santo. O templo foi construído com tal celeridade que se terá dito acerca dele Cito Facta, o que significa Feita Cedo, derivando em Cedofeita.

A igreja foi alvo de sucessivas transformações, adquirindo um traço românico quando foi erguido no mesmo local o Mosteiro de Cedofeita no início do século XII. Em 1742 o prior D. Luís de Sousa Carvalho ordenou várias modificações, dando-lhe o desenho que hoje vemos. Em 1930 a Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais reconstruiu-a de forma a eliminar alguns elementos ornamentais colocados ao longo dos tempos.

(Clique na foto para a ampliar)

fonte: Wikipédia

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Os primórdios

Pelo que se conclui da página da história do Guanabara F.C., na génese da sua fundação estiveram os "Marinhos F.C.", cujos atletas, ainda juvenis, deram os primeiros "toques" nos pelados junto à Igreja Paroquial de Cedofeita inacabada e, mais tarde, no alcatroado junto à Igreja românica.

Na década de 60 do século passado ainda a Igreja Paroquial de Cedofeita não estava acabada conforme esboço aproximado que se apresenta a seguir, elaborado de memória e sem preocupações de respeito pela escala (clique no desenho para o ampliar).

E foi ali, na década de 50, naquele espaço assinalado com o nº 11 que começaram os primeiros "driblings" daqueles que, mais tarde, viriam a ser autênticos "Cristianos Ronaldos" do futebol amador. Outros, nem por isso...
Com efeito, aos Domingos à tarde, os párocos da altura, padres Carlos e Aníbal, fechavam os portões e realizavam grandes "peladinhas" com bola de trapos, sem qualquer intromissão da "bófia". Cada um deles intregrando a sua equipa, incentivavam a "ganapada" e empenhavam-se na obtenção de vitórias folgadas sobre o adversário.
Ainda me recordo de, por vezes (com 7 ou 8 anos), me agarrar às batinas deles, para lhes tentar "roubar" o "esférico".
Julgo que, nessa altura, toda a miudagem da zona ia à missa de Domingo com receio de não vir a ser convocado para o jogo dessa tarde.

No início da década de 60, aqueles dois padres "bacanos" foram transferidos para outras paróquias e, para os substituir, chegou o Abade Martins (mais tarde Bispo de Setúbal) e acabaram as famosas "peladinhas" dos Domingos à tarde.
Assim, a miudagem, para quem o futebol com bola de trapos era o equivalente, nos dias de hoje, a uma boa playstation ou a um telemóvel 4G, não tiveram outra alternativa que não fosse vir jogar para fora do adro, no terreno assinalado no esboço com o nº 12, mas o constante alerta por causa da "bófia" originava muitas falhas de concentração, qual Benfica dos últimos tempos.

Eu nunca tive grande habilidade para a bola, mas como raramente havia voluntários para a baliza, lá me escolhiam a mim para defender as "redes" de uma das equipas e, todas as que vinham..., era vê-las passar!

Ali por perto, depois da Praça Pedro Nunes (Liceu D. Manuel II/Rodrigues de Freitas) e subindo a Rua da Paz, chegava-se ao Largo da Paz onde havia um fábrica de cordas (julgo eu), cujos trabalhadores, que de regresso a casa no fim do dia de trabalho passavam pela igreja de Cedofeita, se juntavam no passeio às dezenas para verem a "ganapada" a exibir a sua mestria na arte de manobrar a bola de trapos.

Ainda que nos encontrassemos a jogar fora do recinto da Igreja, o Abade Martins não se coibia de telefonar constantemente para a esquadra da P.S.P. de Cedofeita, verificando-se, por vezes, autênticos cercos policiais à miudagem, como quem cercava um gang de perigosos mafiosos!
Talvez por estas e outras razões é que toda aquela miudagem deixou de frequentar a catequese e as missas de Domingo.

Recordo-me até de, certo dia, após um desses cercos, o Fausto (já falecido e que morava no Bairro dos Marinhos), ter conseguido escapulir-se para o Largo do Priorado e, um carro da polícia a todo o gás e de sirene ligada, ter surgido da Rua Aníbal Cunha, vindo em sentido proibido até à Igreja Românica à cata do Fausto, incrível!



O Fausto, já farto de tanto espalhafato, resolveu sair dos arbustos, aonde se havia escondido, e dirigir-se lentamente para o caramanchão, onde se sentou e aguardou serenamente a "bófia".
Nessa altura já devia andar pelos 17/18 anos de idade.
Lá lhe aplicaram uma multa de 80$50 (oitenta "paus" e 5 "tostões") que teve de depositar mum tasquinho que havia ali perto.




Em meados da década de 60 iniciaram-se as obras de conclusão da igreja, as quais tinham começado nos inícios do século XX, mas que, por motivos vários, haviam sido interrompidas e a obra ficado a meio, facto ao qual nós, na altura, atribuíamos a origem do nome de "Cedofeita" (ver página "curiosidades").

Devido ao início dessas obras, a "ganapada" viu-se privada do campo de treinos defronte da igreja paroquial, passando a utilizar o campo alternativo defronte da Igreja românica.

Nesta altura, já os pêlos da barba começavam a aparecer na "ganapada" e os treinos passaram, então, a debruçar-se sobre aspectos mais técnicos, incidindo, sobretudo, na marcação dos pontapés de canto.

A rapaziada cotizava-se (5 tostões a um, 5 tostões a outro...) e lá se comprava uma bola de plástico para o efeito.
A baliza era na porta da igreja românica, onde o Tibério se colocava. À vez, cada um dos atletas presentes ia marcar o canto e os restantes, em frente ao Tibério, tentavam marcar golo. Só com jogadores atacantes e nenhum defesa, o Tibério não "via uma" e alguns dos "pontas de lança" até se davam ao luxo de experimentar golos altamente artísticos.
Não havia hora marcada para o fim do treino e este só terminava quando a bola rebentava, ou quando aparecia a "bófia", também aqui chamada pelo Abade Martins.

E foram em condições idênticas a estas que nasceram para o futebol muitos dos jogadores que deliciaram o público nos estádios de todo o Mundo; Di Stéfano, Pelé, Eusébio, Maradona, etc..

AM - Outubro/2013

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

História

Breve resumo da história do futebol amador e do Guanabara F.C.


O Guanabara Futebol Clube foi fundado no ano de 1966 na zona da Carvalhosa, na cidade do Porto e chegou a disputar, durante algumas épocas, o Campeonato Distrital de Futebol Amador da A.F. Porto.

Já nos anos vinte do século passado, na cidade do Porto, existiam muitos (mas bem modestos) clubes de futebol amador (chamado de futebol popular), sem meios nem campo próprio, mas com grande entusiasmo e sacrifício, lá conseguiam juntar uns "patacos" e alugar campo para efectuarem jogos entre si. Outros clubes, mais modestos ainda, realizavam jogos em terrenos baldios que não tivessem muitas pedras nem grandes declives.

Eram, essencialmente, clubes organizados em bairros populares, vulgo "ilhas".

Alguns desses clubes acabaram por se organizar e criaram, em 1927, a Liga Invicta que teve tal êxito e adesão (dezenas de participantes) que a Associação Distrital de Futebol acabou por aceitá-los no seu seio em 1933, mas impondo que os mesmos possuíssem sede e os atletas fossem alvo de verificações médicas.

Assim, foram organizados campeonatos até 1937, ano em que aquela Associação dá por finda a sua "má experência".

Três anos depois (1940) o Jornal de Notícias decide organizar o Campeonato Popular do Porto e supomos que terá sido nesta época que terá surgido, pela 1ª vez, o F.C. da Carvalhosa.

Este campeonato teve apenas 3 edições, já que as restrições impostas pelas "entidades oficiais" eram de tal ordem que o campeonato foi suspenso.

Na década de 50, pela "batuta" de António Pinto, que mais tarde foi um dos fundadores do Ultramarino F.C., é criada uma "escolinha" de jovens jogadores (foto), alguns dos quais criam mais tarde o Marinhos F.C. (do Bairro dos Marinhos), único clube da zona da carvalhosa que, à época, praticava futebol (e bom), e utilizava um terreno por detrás do Cemitério de Agramonte como campo principal, sendo os treinos realizados no terreno que existia à frente dos portões da Igreja de Cedofeita inacabada.
Iniciadas as obras de conclusão, as famosas "peladinhas", passaram a utilizar o alcatroado junto à igreja românica, cujo piso era mais adequado aos "driblings" artísticos tão característicos daquela rapaziada, mas que a "bófia", pelos vistos, destestava.
Esses treinos eram realizados às escondidas da polícia, como era habitual naqueles tempos e, como equipamento, era utilizada a roupa e o calçado do dia-a-dia, facto muito do agrado dos sapateiros da zona.
Desta gesta de jovens futebolistas saíram alguns dos "craques" que, mais tarde, vieram a a integrar os plantéis, do Guanabara e do Ultramarino F.C., entre outros.

Mas, em 1964, a A.F. Porto com o apoio do JN, criou o Campeonato Distrital de Amadores que contou com a participação de 32 equipes na 1ª prova, chegando mais tarde a ter mais de 100 participantes por época.

Os clubes que disputaram esse primeiro campeonato, cujo vencedor foi a Associação Recreativa de S. Martinho, foram os seguintes:



Tratava-se agora, essencialmente, de clubes populares e de fim-de-semana, com "sedes" em cafés.

Em 1 de Setembro de 1966, na zona da Carvalhosa, na cidade do Porto, é fundado o Guanabara F.C. por um grupo de amigos que frequentavam o Café Guanabara, situado na Rua de Oliveira Monteiro, perto da Rua da Boavista.
Esse pequeno grupo seria formado, segundo julgo, pelos seguintes elementos:
- Alberto dos Santos Moreira (já falecido);
- Joaquim António Brochado da Costa;
- Albano dos Santos Diogo;
- António da Cunha Botelho.

Alberto dos Santos Moreira foi o primeiro Presidente do Clube e era uma pessoa eclética, já que inscrevia os atletas na A.F.P., tratava dos equipamentos e de todos os aspectos burocráticos referentes à participação do Clube no Campeonato Distrital de Amadores.

Algum tempo depois, ali bem perto, é re-fundado o F.C. da Carvalhosa por um grupo de amigos também, mas que frequentavam o Café Diu, na Rua da Boavista.

Este F.C. da Carvalhosa nunca chegou a inscrever-se na A.F. Porto e, portanto, nunca chegou a disputar o Campeonato Distrital de Amadores, limitando-se a realizar jogos particulares, nomeadamente com o seu rival e vizinho, Guanabara (autênticos derbys locais) até que na época de 1968/69 o Guanabara F.C., mais bem organizado, se inscreve na A.F. Porto e passa a disputar o Campeonato Distrital de Futebol Amador.

Houve então necessidade de criar, oficialmente, os órgãos sociais do Clube, cuja composição foi publicada no JN.
Terá havido, então, uma Assembleia Geral para o efeito, mas que se terá cingido a uma conversa de meia dúzia de elementos à mesa do café que, sendo a um Sábado, dia em que o café Guanabara se encontrava normalmente repleto de trabalhadores-estudantes que para ali iam "rever alguma matéria", poder-se-à afirmar, com toda a propriedade, que a Assembleia Geral teve assinalável participação.

Entretanto o F.C. da Carvalhosa cessa a sua actividade, e a maioria dos seus "craques" são transferidos para o rival Guanabara e, ao que consta, nem todos terão sido a custo zero, já que alguns terão exigido uma caneca de cerveja e um pratinho de tremoços para assinarem por esse Clube.

Ali na zona (Rua da Torrinha) existia já um clube do género (Ultramarino F.C.), fundado por amigos frequentadores do Café com o mesmo nome e que se inscreve na A.F. do Porto na época de 1967/68, iniciando a sua participação no Campeonato Distrital de Amadores a parir da sua 3ª edição.

Cartão de atleta inscrito na A.F.P. de um dos fundadores
do Guanabara F.C. e seu sócio nº1 - Albano dos Santos Diogo.

O Guanabara F.C. inscreve-se na época seguinte e a zona da Carvalhosa passa a estar representada por dois clubes no Campeonato de Amadores (o Ultramarino e o Guanabara) que, obviamente, se tornam grandes rivais.

O plantel do Guanabara era muito inconstante e frequentemente se apresentava a jogo com um "onze" incompleto, ou integrado por elementos das equipas B e C. e, algumas vezes, até da equipa D! Não porque grassassem as lesões, mas porque alguns atletas (os "craques") primavam pela ausência caso o dia se apresentasse tempestuoso ou se houvesse jogo importante nas Antas ou, até, "porque o adversário era fraquito".
No entanto, quando se tratava de enfrentar o rival Ultramarino F.C., chegavam a aparecer jogadores suficientes para formar dois "onzes" completos!

O Guanabara F.C. disputou aquele campeonato durante 4 ou 5 épocas, após o que também cessou a sua actividade, desfecho que já era esperado, não só pela constante chamada à guerra de África da maioria dos seus atletas, mas sobretudo, por se tratar de um Clube "sui generis", onde não havia treinador, não havia banco (era pobrezinho) e, por vezes, não havia jogadores.

A sua sede situava-se, oficialmente, num prédio devoluto da Rua de Cedofeita, pertencente a uma qualquer instituição religiosa (julgo eu) e no qual só era possível aceder à respectiva caixa de correio para recolha de correspondência.


Na sua curta existência o Guanabara Futebol Clube conquistou algumas taças em torneios particulares e a Taça de Disciplina da Associação de Futebol do Porto.

Mais tarde, um outro grupo de amigos daquela zona resolve retomar a actividade do F.C. da Carvalhosa, dotando-o de uma Direcção empenhada e dinâmica que cria a sua sede em instalações alugadas na Rua Barão de Forrester e inscreve o Clube na A.F. Porto passando, também, a disputar o Campeonato Distrital de Futebol Amador, sendo, actualmente, o único representante da zona da Carvalhosa naquela competição.

(AM - Setembro/2013)
Fontes:
- http://futebol-amador-com-historia.blogspot.pt/2007/06/196667.html
- http://futebolamador-victor.blogspot.pt/2010/09/amadores-campeonato-da-af-do-porto.html
- outras